TEXTOS EDUCATIVOS SOBRE A IMAGINAÇÃO DAS CRIANÇAS.

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A imaginação das crianças
Blanca De Leríes
“Mamãe – diz Maria de quatro anos – a Branca de Neve diz que me vai levar ao bosque para conhecer os sete anões…”
- Está bem – diz a mãe aborrecida -, mas não digas essas parvoíces e não mintas mais.
É bom observar com a criança as mentiras que ela inventa. Para os miúdos, às vezes, o real anda de mãos dadas com o imaginário. Quando inventam, não mentem intencionalmente, apenas imaginam. Neste artigo sugere-se como lidar com esse pequeno sonhador e orientar a sua imaginação.
A criança costuma misturar o real com o imaginário. Não sabe onde termina um e começa o outro. Branca de Neve, Capuchinho Vermelho, a bruxa ou o dragão podem ser companheiros de jogos.
O trabalho dos pais e educadores deve ser o de orientar devidamente a imaginação do pequeno.
Há pessoas que pensam que o menino deveria descer à realidade em todos os momentos e que contar-lhe histórias de fadas é um absurdo.
Sonhar, faz falta
Qual será a atitude correta?
Em nossa opinião, a criança deve dar rédea solta à sua imaginação para criar e, através da criatividade, desenvolver a sua inteligência. Um miúdo sem imaginação será mais tarde um adulto intelectualmente pobre.
A criança precisa de sonhar com personagens de ficção. Gnomos, princesas, gigantes e fadas fazem parte do seu mundo mágico. São os protagonistas criados pela imaginação infantil, através de inumeráveis histórias.
Educar o filho longe das fantasias próprias da sua idade é convertê-lo num pequeno-homem antes do tempo. A criança distingue-se do adulto pela capacidade e também pela necessidade de abstração da realidade: pode falar com sereias, julgar que é um índio, vestir a bata de médico e operar o seu irmão mais pequeno e, logo a seguir, chamar a mamã para o levar à casa de banho. E tudo isto em menos de meia hora. Interpretou quatro histórias fantásticas, mas no fim converteu-se no filho da sua própria mãe…
Para se amadurecer bem, tem que se passar por algumas situações desde que se nasce até morrer, e a fantasia ocupa um lugar muito importante nos primeiros anos da vida.
Todas as crianças gostam de imaginar que são reais certas personagens, como o Super-homem ou os Reis Magos. A nós, adultos, fizeram-nos muito felizes. Nenhum menino pode ficar traumatizado por descobrir que não existem. Pelo contrário, a época do Natal, e outras, convertem-se em festas alegres para as crianças,
que põem a trabalhar toda a sua imaginação.
O melhor método
Uma criança sem imaginação será no futuro um adulto intelectualmente pobre.
Não se deve cruzar os braços e esperar que o filho, naturalmente, desenvolva a sua imaginação. A mãe natureza não é suficiente. Tem que haver um empenho em dar ao pequeno todas as
oportunidades possíveis para que imagine, crie e desenvolva o seu cérebro.
Como se consegue isso?
- Através de brincadeiras criativas com massinha, construções e barro. A criança manipula diretamente os materiais e faz árvores, casas, pontes, etc.
- O vídeo de forma controlada e seleção de programas é
um meio muito eficaz para estimular a imaginação.
- Os jogos com os objetos mais simples da casa. Procura-se fabricar brinquedos com caixas de sapatos, pedras, pedaços de madeira, miolo de pão, etc.
- Bonecos pequenos com os quais se podem inventar mil histórias.
- Tintas e muitas folhas brancas podem fazer do seu filho um pequeno Picasso.
- Os jogos de interpretação são muito divertidos; a mãe pode ser
a avozinha e os pequenos o lobo e o capuchinho vermelho.
- O contacto com a natureza é muito importante para o desenvolvimento da imaginação da criança. Aproveitar os fins de semana e ir para o campo com os filhos. Contar-lhes histórias de animais. Ensinar-lhes os nomes e como crescem as árvores e as plantas,
ou brincar com terra a construir cabanas…
- Os contos bem contados, ditos devagar,
oferecem à criança muitos recursos para sonhar e imaginar.
- O banho também pode ser divertido: à segunda com muita espuma, à terça com sais de cor, à quarta com todos os bonecos na água, à quinta com óculos de mergulhar…
O grau de imaginação que se desperta no filho depende da maneira como ele é educado.
Não reprimir constantemente a sua imaginação e evitar:
- Que um filho se converta em sujeito passivo das suas atividades:
colado à televisão ou observando como os outros jogam.
- Que se tenha que passar o dia inteiro a vesti-lo e a dar-lhe de comer…
É claro que tudo tem a sua idade e que os primeiros anos são aqueles em que é preciso acompanhar constantemente a criança, mas chegará o
momento em que ele tem que vestir as calças sozinho.
A atitude ideal é deixá-lo só, embora sob vigilância, para que aprenda a ter iniciativas.
- Não proteger demasiado o filho. Tem que cair, experimentar e conhecer. Se se meter numa redoma de vidro o seu cérebro nunca se desenvolverá.
A mãe deve aprender a ser positiva quando educa o filho.
- Animá-lo a participar ativamente nos jogos e a tomar as suas próprias iniciativas.
Não decidir sempre por ele.
Demonstrar alegria quando mostra alguma coisa feita por ele próprio
(de sonhos, bonecos coloridos, etc.).
- Tal como na educação, o exemplo é o mais importante:
tratar o filho com imaginação, para que ele nos imite.
Fazer planos divertidos e variados
- Romper a monotonia diária com alguma surpresa inesperada: uma pessoa amiga que vem a casa almoçar ou o pato com que sonhava há muito e
que o pai acabou por lhe comprar.
Pode haver motivos de preocupação?
Há crianças que estão convencidas de que são Robin Hood, Asterix ou a Gata Borralheira. Algumas são mesmo capazes de ter conversas diárias com toda a família Disney.
Os extremos não são bons. A criança tem que perceber que a imaginação tem limites determinados e não pode levar dias inteiros a imaginar que é o Peter Pan.
Se um filho não faz mais nada do que sonhar e andar o dia inteiro nas nuvens,
tal situação pode dever-se a algumas circunstâncias:
- Demasiada dureza em casa e castigos desmedidos.
- Pode ter problemas de timidez. Como lhe custa relacionar-se com crianças da sua idade, converte-se em Superman e desta forma sente-se seguro e forte.
- Muitas vezes ultrapassa os limites da imaginação para fugir a uma realidade familiar que lhe causa desgosto: discussões entre os pais, famílias separadas, ambientes de profunda tristeza…
- Notas más. Fracasso escolar. Sobretudo quando os pais reagem,
maltratando psicologicamente os filhos pelas suas más notas.
Mas em qualquer altura é tempo de corrigir um filho, se ele sonha mais do que o devido. O remédio é tratá-lo com muito amor e paciência em doses elevadas.
- Nada de começar aos gritos sempre que diga que acaba de falar com o anão saltarino. Ensiná-lo a separar a realidade da fantasia: “Se quiseres, vamos conquistar o castelo da feiticeira má, mas tens de acreditar que ele não existe na realidade”.
- Corrigir qualquer situação familiar negativa que possa influenciar a criança
(brigas, discussões…).
- Procurar ser sempre muito sincero quando o miúdo faz perguntas,
e adaptar as respostas à sua idade.
Verdade ou mentira
Por vezes castiga-se injustamente o filho e chama-se-lhe mentiroso, porque responde a uma pergunta de forma completamente disparatada: “João, guardaste o caderno? Não, o papá levou-o…”. Isto é pura invenção, porque ele nem sequer sabe da existência do tal caderno. A reação, infelizmente, é castigá-lo por não ter dito a verdade.
O que acontece é que ele tem um tal terror às reações da mãe, que inventa qualquer coisa para sair da dificuldade.
Pode ainda suceder que nem pense na pergunta e, sem má intenção, diz a primeira coisa que lhe vem à cabeça.
Outra hipótese é o João gostar de inventar respostas, sobretudo quando nota que enerva os pais. De qualquer forma, a reação dos pais não pode ser agressiva. Não gritar, nem chamar-lhe mentiroso. Isso será magoá-lo negativamente com um qualificativo que ele não merece e em que pode ficar a acreditar.
Quando se repara que o filho não disse a verdade, deve dialogar-se calmamente com ele, para que explique por que respondeu incorretamente.
Procurar verificar se a mentira tem alguma coisa a ver com a sua imaginação ou invenção.Quando a criança mente, oculta sempre qualquer coisa intencionalmente. Quando inventa ou imagina, não tem intenção de ocultar nada.
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3-6 anos: A idade da fantasia
Ricardo Regidor
Seu mundo é diferente do mundo dos adultos porque sua imaginação lhes oferece possibilidades muito mais criativas e inesperadas. Um simples boneco pode voar ou ainda se transformar em um bandido famoso.
O capitão Gancho pode entrar dentro de casa a qualquer momento, exibindo seu gancho reluzente e um sorriso "papameninos" na boca. Para as nossas crianças, um personagem de histórias infantis, uma fada ou a própria "Pocahontas" são tão reais como seus amiguinhos.
Estão na idade da fantasia, onde tudo se passa dentro de uma lógica diferente da nossa, e as próprias crianças, com uma simples capa, podem se transformar em super-heróis vingativos.
Entre os 3 e 6 anos, nossos filhos se encontram numa idade em que é muito fantasioso o modo como vêem as coisas e a própria realidade. Porque vêem o mundo que os rodeia em função de seus próprios interesses, isto é, daquilo que atrai a sua atenção e do que excita a sua imaginação... Seu mundo é diferente do mundo dos adultos porque sua imaginação lhes oferece possibilidades muito mais criativas e inesperadas. Um simples boneco pode voar ou ainda se transformar em um bandido famoso.
Nossos filhos estão em processo de crescimento, e disso faz parte o aumento da fantasia, da criatividade e da capacidade imaginativa... De tal forma que, às vezes, esse outro mundo chega a invadir a realidade. Uma fantasia especialPara os meninos e meninas nessa idade, essa maneira especial de ver o mundo se denomina "pensamento mágico". Acreditam que o impossível seja possível.
Por exemplo, enquanto pequeninos, estão convencidos de que todos os seus desejos vão se realizar, sendo simplesmente uma questão de querer.
Acreditam que, pelo fato de desejarem e repetirem muitas vezes, podem fazer aparecer, na tela, mais desenhos animados...
Sua fantasia continua misturada com a realidade. Por isso, deixando-se levar pela imaginação, tendem a exagerar qualquer acontecimento ao seu redor, tanto para o bem como para o mal. Além do mais, confundem o que desejariam que acontecesse com aquilo que pode acontecer, porque ainda não sabem distinguir entre o real e o fantástico. Simulação ou realidadeO processo de crescimento e maturidade não é nada fácil para uma criança. Pouco a pouco ela terá de se confrontar com o mundo, de se relacionar com os demais... Por tudo o que hão de passar, as crianças sentem necessidade de um mundo interior que lhes ofereça proteção e possa se transformar em um refúgio para elas. Quando a criança brinca de imaginar, ela se transforma na pessoa todo-poderosa que não é na realidade. Inventa e transforma... um pau, por exemplo, vira um cavalo de corrida. Isto porque a fantasia é, para ela, um modo de aprender. Com a imaginação, ela cria situações novas e se põe dentro delas, como num jogo de faz-de-conta. Esta é a maneira de viver uma grande variedade de experiências: poder se transformar em mamãe, em um professor, ou em um maestro. E não apenas transforma um objeto em outro, mas também é capaz de transformar-se a si mesma; pode mudar de identidade, de um momento para outro, passando da ficção à realidade quantas vezes achar necessário fazê-lo, além de buscar cúmplices que participem também deste jogo fantástico. Gênios e criativosÉ conveniente que as crianças usem essa capacidade de fantasia, que brinquem muito com ela, que inventem, pintem, usem disfarces, expressem-se etc. Provavelmente serão, no futuro, pessoas muito mais criativas. Mas precisamos também manter vigilância para intervir no momento oportuno, de modo a poderem separar seu pensamento racional de sua imaginação, e irem assimilando a realidade tal como é. O uso da fantasia apresenta muitas vantagens para a criança, além da função que cumpre, em seu desenvolvimento natural e em seu amadurecimento: - A fantasia favorece a criatividade, a imaginação e a sensibilidade. Nessa idade, a criança nos surpreenderá com seus argumentos e saídas curiosas, porque está naturalmente predisposta a isso. - A fantasia facilita a capacidade de se entreter e não se entediar. A criança é capaz de inventar mil modos de se divertir, sem necessidade de aparatos televisivos como videogames etc. - A fantasia favorece a inteligência, por se tratar de um exercício intelectual em todos os sentidos. Pais participativosNosso papel de pais deve consistir em ajudá-los a diferenciar a realidade daquilo que só existe na sua cabeça, algo fundamental para que possam ir amadurecendo. Mas a distinção entre estes dois mundos só deverá ser feita à medida que for necessário. Não precisamos ter muita pressa, pois não há mal nenhum em que, de vez em quando, as crianças se deixem levar pela sua portentosa imaginação. Mais importante que ajudá-las a pôr os pés no chão, recorrendo a argumentos "lógicos", é que possamos participar de suas brincadeiras fantasiosas, embora, como todos sabemos, não seja lá muito fácil brincar com os nossos filhos nessa idade. O que faz falta é tomar parte em sua fantasia e deliciar-se com um sorvete imaginário, servido em uma colher de 10 centímetros, ou agir como se fôssemos autênticos lobos, ou índios. Resumindo...Brincar com eles:- É preciso participar, e não apenas ser meros espectadores das brincadeiras de nossos filhos, para compartilhar com eles esse mundo mágico e fantasioso em que vivem. - Para brincar com eles, temos de nos colocar à sua altura, o que supõe deitarmos no chão, mais de uma vez, ou comprarmos de verdade a fruta de plástico que nos oferecerem.- O tempo deles, para brincar, deve ocupar um espaço fixo em nosso horário, transformando esses momentos em uma aventura intensa, durante a qual não haja lugar para a pressa.Em vez de dirigirmos suas brincadeiras, devemos ajudá-los a manifestarem sua liberdade e criatividade, permitindo que sejam eles os protagonistas. - Temos de entrar em seu mundo e nos deixar envolver por sua lógica e fantasia infantil, em vez de pretender que nosso filho abdique dele para acomodar-se à realidade dos mais velhos. Distinguir a realidade- Aproveite os momentos em que não estiver brincando, para falar com o seu menino, como se ele fosse um homenzinho, mas sem forçar a conversa. Quando ele mudar de assunto e começar a falar de monstros, entre nessa corrente. - Para que ele supere alguns medos causados por sua fantasia, cabe a nós darmos as razões disso. Se os leões o assustam, explicaremos que eles vivem na África, que em nossa casa é impossível entrarem, em vez de zombarmos dele. - Você pode ir explicando, pouco a pouco, com argumentos de acordo com a idade infantil dele, que nem tudo o que ele vê na televisão se adapta à realidade.- Podemos explicar-lhe o que é possível fazer para entrar em casa quando estamos sem as chaves. Primeiro há que propor soluções factíveis, reais, que possam ser executadas ("a titia tem uma cópia"). Depois é que o incentivaremos a usar a fantasia para saber como resolveria o problema ("se fosse o Superhomem entraria voando").
Por: Ricardo RegidorEdiciones Palabra
Tradução: M. C. Ferreira
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Observar os filhos para compreendê-los
Anna Maria Costa
É bom começar por dizer que "observar" os filhos não significa bisbilhotar", isto é, näo pode ser ocasião para violarmos a sua intimidade pessoal. Somos bisbilhoteiros quando queremos saber tudo, mas quase unicamente para satisfazer as nossas exi­gências e para tranqüilizar as nossas ansiedades.
O respeito à intimidade dos filhos é fundamental para estabelecer com eles um autêntico relacionamento de confiança. A tarefa de observá-los assume, portanto, uma feição inteiramente particular, porque se baseia na mais absoluta naturalidade e espontaneidade, o que torna necessária uma participação ativa na vida do filho: é uma observação destinada a captar e a incentivar tudo o que pode ajudá-lo a desenvolver-se como pessoa, com pleno respeito a sua liberdade.
Para consegui-lo, pode ser conveniente descer ao nível da criança, ver as coisas um pouco do ponto de vista dela; se soubermos fazê-lo, ficaremos admirados ao notar a enorme diferença que há entre o nosso mundo e o das crianças, e quanto o delas é rico, apesar das aparências. A observação e o conhecimento começam a partir do berço. Cada criança tem as suas exigências e é diferente de qualquer outra. Procuremos, portanto, respeitá-la e não impor-lhe de modo muito rígido os nossos horários. Seria mais oportuno que a mãe se adaptasse, por exemplo, aos horários de um bebê, e não ao contrário.
A observação deve, pois, tender a saber não só "como é a criança", mas sobretudo como nós somos com ela; muitos dos seus hábitos dependem exclusivamente de nós e têm a sua origem no modo habitual com que nós mesmos nos conduzimos. É fácil perceber que muitas das preferências do filho resultam dos hábitos de seus pais.
Por último, é necessário empenhar-se em observar os filhos no seu relacionamento com os pais e também com os da sua idade; no seu comportamento em casa e fora dela, de modo a conseguir uma imagem completa da sua personalidade.
a primeira infância, procuraremos portanto conhecer do nosso filho não só o seu tamanho, o peso, etc., mas também a sua capacidade e potencialidade de movimentos (o chamado desenvolvimento motor), perguntando-nos honestamente se somos pais que favorecem a educação física ou não. É penoso observar que há crianças já bem grandinhas que não agüentam um pequeno passeio porque "se cansam", "não estão acostumadas", e que não correm e não saltam porque "poderiam cair" e "machucar-se".
Saber observar o filho significa também vê-lo como ele é com os demais meninos, sem porém usar de indulgência nas comparações.
Fonte: extraído do livro "Conheça o seu filho", da Editora Quadrante. A autora, Anna Maria Costa, é psicóloga italiana.

Publicado no Portal da Família em 04/03/2008
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NORMAS EFETIVAS CONTRIBUEM PARA QUE SEU FILHO SE SINTA SEGURO
As normas a estabelecer dependerão de cada família. Antes de estabelecê-las convém que você observe detalhadamente a seu filho. Deve examinar seu comportamento fixando-se, não apenas naquilo que faz mal e gostaria de mudar, mas também naquelas coisas que ele faz bem. Isso pode lhe dar pistas para desenvolver nele o bom comportamento que deseja conseguir.
Na hora de ESTABELECER ALGUMAS NORMAS é importante que o pai e a mãe se sintam juntos e dediquem um tempo a colocar-se de acordo sobre tais normas. Ao fazê-lo deverão ter em conta uma série de recomendações:
As normas devem ser POUCAS: O mandar muito e mandar fazer coisas inecessárias acaba sendo uma perca de autoridade: nossos filhos se acostumam a escutar-nos "como quem ouve chover" e pensa que lhes damos ordens"apenas para aborrecer".
As ordens devem dar-se DE UMA EM UMA e suficientemente ESPAÇADAS NO TEMPO. Se você dá a seu filho uma série de ordens em cadeia, o mais provável é que a criança "passe" e faça como se não tivesse ouvido.
*SER SÓBRIOS NO EXERCÍCIO DA AUTORIDADE
Portanto há que limitar a exigência a poucas coisas. O filho deve saber que, nestas coisas, seus pais vão perseverar na exigência. Devemos reservar nossa autoridade para questões mais importantes e nas outras questões apenas sugerir.
As normas e ordens devem ser, além disso, CLARAS e ESPECÍFICAS de forma que a criança saiba exatamente o que se espera dela. Devem descrever-se de forma precisa para que tanto a criança como seus pais possam determinar claramente se se cumprem ou não.
*EXPLICAR-LHES BEM O QUE LHES PEDIMOS ANTES DE EXIGÍ-LO.
Se quando você sai de casa diz a seus filhos que, ao voltar, espera encontrar tudo arrumado, você não está lhe dando ordens claras. Se, pelo contrário, diz a João que deve fazer a cama, a Maria que deve arrumar a cozinha, e a Pedro que deve tirar o lixo antes das 12:00 hrs é mais provável que o cumpram.
Além disso, convém estabelecer um LIMITE DE TEMPO para seu cumprimento, já que, quando não se coloca, são freqüentes as discussões sobre quando se fará a tarefa ou se cumprirá a norma.
Se, por exemplo, decide que seus filhos deverão fazer as camas aos sábados e domingos e estabelece uma hora limite para que cumpram esta tarefa, evitará muitos aborrecimentos.
As ordens e as normas devem ser RAZOÁVEIS e adequadas à idade de seu filho: isto é, deve-se assegurar de que seu filho dispõe dos recursos necessários para cumpri-la e do tempo necessário para fazê-lo.
*EXIGIR NO QUE É RAZOÁVEL E JUSTO
As ordens e normas devem ser RAZOÁVEIS. Para que a obediência se converta em uma virtude, os pais devem explicar aos filhos as razões pelas quais lhes pedem algo. A partir dos 4 anos você deve insistir, portanto, em explicar-lhe o porque do que lhe pede.
Convém, também, que lhe fale sobre o que significa "obedecer". Deve deixar-lhe claro que todas as pessoas, independentemente de nossa idade, temos que obedecer: obedecemos no trabalho, na rua, dirigindo, etc. Obedecer não é coisa de criança e eles não são uma exceção. Devemos obedecer porque é bom para nós, nos ajuda a viver em sociedade, a ser mais livres e mais felizes. É melhor exigir POSITIVAMENTE: Muitos pais dizem continuamente a seus filhos o que não devem fazer mas não lhes dão dicas precisas sobre o que esperam deles. Não é o mesmo dizer a seu filho "Não perca tempo depois da aula" que "quando acabar a aula quero que venha direto para a casa". Se você utilizar palavras positivas estará ajudando seu filho a pensar e atuar positivamente. Assim saberá o que tem que fazer e não apenas o que deve fazer.
*AS PALAVRAS POSITIVAS PRODUZEM CRIANÇAS COMPETENTES
Deveremos procurar exigir NO MOMENTO OPORTUNO. Não resultará muito eficaz se você pede a seu filho que vá tomar banho na hora que está vendo seu programa favorito, ou que tire o lixo quando está fazendo seus deveres. Comece exigindo-lhe naquelas coisas que sejam mais gratificantes para a seguir passar a insistir nas quais mais lhe custam.
*REFORCE POSITIVAMENTE SEU FILHO QUANDO CUMPRE AS NORMAS
De fato, muitas crianças não aprendem a obedecer porque NÃO LHES MOTIVAMOS para que obedeçam. Freqüentemente, os pais nos esquecemos de reforçar-lhes quando se portam bem. Consideramos que portar-se bem é seu dever e que, portanto, não devemos reforçar tais comportamentos. Isto constitui um grave erro. Não devemos esquecer que, de acordo com as leis da aprendizagem:
*SE REFORÇAMOS UMA CONDUTA O FILHO A MANTERÁ , SE A IGNORAMOS O FILHO A EXTINGUIRÁ
Portanto, você deve procurar surpreender a seu filho fazendo bem as coisas e elogiar-lhe. Quando você lhe pede algo e ele o faz logo ao primeiro pedido, dê-lhe um abraço e diga-lhe que está contente. É a melhor maneira de fazer com que ele o repita.
Deve existir alguma CONSEQÜÊNCIA prevista se se rompe o cumprimento de uma norma e utilizar aquelas conseqüências que forem importantes para a criança.
*OS CASTIGOS PREVISTOS DEVEM SER TAMBÉM RAZOÁVEIS
As conseqüências do não cumprimento das normas devem ser consistentes: Em várias ocasiões, os pais não somos coerentes e, quando a criança faz algo, atuamos de forma contraditória. Por exemplo, se quando seu filho diz palavrões, algumas vezes você ri achando graça e em outras lhe castiga severamente, a criança não saberá diferenciar as situações e será difícil que aprenda a comportar-se de forma que interiorize as pautas de comportamentos que seus pais pretendem ensinar-lhe. Estas situações geram, além disso, desconcerto, e insegurança. Portanto, não se deve esquecer que, para que uma criança aprenda é necessário que uma conduta tenha sempre o mesmo tipo de consequências.
Tenha em conta que uma aplicação coerente da regra e um castigo suave são muito mais eficazes a longo prazo que a incoerência e os castigos severos. E lembre-se que OS CASTIGOS DEVEM CUMPRIR-SE. Não ameace, portanto, com castigos que não estamos dispostos a cumprir.
Seus filhos devem compreender que, quando livremente não cumprem uma norma, são eles próprios quem ganham o castigo. Os pais simplesmente vigiam o cumprimento das regras estabelecidas e sua conseqüências.
TERESA ARTOLA GONZÁLEZ é doutora em Psicologia pela Universidade Complutense de Madri e Master em Educação Familiar pelo E.I.E.S (Educational Institute of Educational Sciences). Desenvolve um amplo trabalho de pesquisa e docente no campo da Psicologia Infantil e é professora da Escola Universitária Europea da Educação de Fomento de centros de Ensino. É autora de diversas publicações em sua maior parte dedicadas aos problemas de aprendizagem, sua avaliação e tratamento.
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*Compreensão - O que os filhos esperam dos pais
Hugo de Azevedo
"Eu não compreendo este rapaz !", desabafam. Talvez não reparem que é uma confissão de incompetência paterna ou materna. E, contudo, como esperam os filhos que os pais os compreendam ! Se os pais não os entendem, quem os compreenderá ?
Os filhos esperam compreensão no sentido exato da palavra. Não apenas uma atitude de tolerância, ou de paciência. Desejam mesmo ser entendidos; que os pais adivinhem o que lhes passa por dentro, tendo em conta o seu temperamento, a sua idade, os seus sonhos... Esperam isso dos pais, porque normalmente eles próprios não se compreendem, e bem gostariam que alguém interpretasse corretamente a sua confusão interior. E quem, senão os pais em primeiro lugar ?
Precisam de compreensão, pois necessitam de amparo. A juventude é desequilíbrio, um tentar-não-cair constante.
Sobretudo a partir da adolescência, as ordens e sermões paternos já não lhes servem de grande auxílio. O moço sente-se responsável por si mesmo e faz tentativas crescentes de autonomia. Por meio de ordens e proibições, os pais já pouco os podem ajudar. Não digo que não as dêem, mas sim que a educação propriamente dita já não segue por esse caminho. É como quando os bebês começam a andar pelo seu pezinho; de vez em quando, ainda precisam de colo, mas rapidamente lhes apetece sair do regaço, voltam ao chão e correm perigosamente por aí afora... Os pais têm de correr atrás deles, com os braços abertos, para lhes evitar as quedas ou para os erguer depressa do chão, onde acabaram por tombar...
No os levam sempre pela mão, nem os meninos os consentem. Querem os braços livres como asas para se sustentarem na vertical. Como asas, para voarem longe.. É o que acontece de algum modo em todas as idades.
Os pais precisam dominar a inquietação que sentem por eles e deixá-los realmente livres como pássaros a sair do ninho, mas amparando-os; devem compreender os seus anseios, mas prontos a recebê-los outra vez nos braços quando for preciso.
No fundo, é tão fácil compreender as pessoas ! Somos todos da mesma massa, temos as mesmas aspirações e as mesmas fraquezas, mais ou menos acentuadas conforme os temperamentos. Mas só as compreendemos bem (paradoxos da vida !) quando nos lembramos de que são livres e de que, portanto, são todas diferentes, originais e surpreendentes, isto é, quando nos lembramos de que todas as pessoas são incompreensíveis !
Quando os pais exclamam: "Eu não compreendo este rapaz !", é porque o tinham classificado interiormente como um fóssil e se esqueceram de que se tratava de uma pessoa, de um ser livre, capaz de comportamentos contraditórios, como todos nós.
Os pais têm de contar com as qualidades e os defeitos habituais dos seus filhos, e simultaneamente têm de estar preparados para as mudanças mais radicais e súbitas de atitude. Devem esperar o inesperado.
Compreender significa, nesse caso, não se escandalizar com as mudanças rápidas dos filhos e reconhecer que não podem projetar com segurança o seu futuro. Significa compreender que eles, os filhos, são projetos vivos em evolução imprevisível. Aos pais só corresponde animá-los, avisá-los, orientá-los, respeitá-los, e não substituí-los. É assim que eles se sentem compreendidos.
Do livro O que os filhos esperam dos pais, Hugo de Azevedo, Quadrante, São Paulo
"Amigas leiam esse livro ele é incrível"
FRAN - miguelitoeducaçao