HISTÓRIAS EDIFICANTES

UM CASTIGO EDUCATIVO
Como todos os meninos, eu era curioso e um pouco destruidor. Um dia cometi a travessura de fazer uns buracos em uma das portas de nossa casa, para ficar espiando o que ocorria na rua. Procurando dar-me um castigo educativo, meu pai fez-me reparar o estrago que causara. - Vá buscar uns pedaços de madeira, e procure cortá-las de modo a se ajustarem nos buracos; depois passe a lixa. Fiz o trabalho um pouco envergonhado, e, ao terminá-lo, era pouca a vontade que tinha de olhar para a porta verde com aqueles círculos brancos. Meu pai então me disse que eu devia pintá-los da mesma cor da porta, e me deu dinheiro para comprar tinta. A que arranjei não era exatamente da mesma cor, e por isso, por insistência do meu pai, pintei toda a porta. Desde esse momento,surgiu em mim uma espécie de gosto para melhorar e reparar as coisas da nossa casa. Pintei seis portas e duas janelas, que não ficaram mal, sentí-me orgulhoso de ser pintor, e minha atitude mudou em conseqüência daquele castigo que terminou em forma agradável e boa.
Carlos Salazar, MéxicoTragédia
TRAGÉDIA MAIOR QUE A MINHA
Quando eu tinha meus dez anos, manifestou-se em mim uma revolta íntima que me levaria por certo a um perigoso complexo de inferioridade. É que não me conformava com a pobreza em que vivíamos, a ponto de magoar meus pais. Certa ocasião, nas vésperas do natal, papai comprou-me um par de sapatos, de qualidade inferior. Quando cheguei em casa, chorei amarguradamente, pois desejava um de melhor qualidade, como alguns dos meus companheiros e vizinhos, para apresentar-me na festinha da escola. Quando me acalmei, mamãe, que tinha procurado convencer-me de que não faria má figura, saiu comigo, levando embrulhado, sem que eu percebesse, o meu par de calçados velhos. Ia cumprir a promessa que fizera a uma amiga de levá-los ao seu filho, mais ou menos da minha idade, pois o pai dele estava desempregado. Antes que ela me dissesse qualquer coisa, compreendi que a tragédia do menino era bem maior do que a minha. De volta, carinhosamente, mamãe comentou aquela boa lição que se gravou de maneira indelével em minha alma e até hoje me serve de estímulo, nos momentos de dificuldade: “A nossa desgraça, se avaliarmos bem, é sempre menor que a do nosso próximo.”
Bastos Neves, São Paulo

VENCENDO AS DIFICULDADES
Meu maior defeito, nos tranqüilos dias da infância, consistia em desanimar com demasiada facilidade quando uma tarefa qualquer me parecia difícil. Eu podia ser tudo, menos um menino persistente. Foi quando, numa noite, meu pai entregou-me uma tabuazinha de pequena espessura e um canivete, e me pediu que, com este, riscasse uma linha a toda largura da tábua. Obedeci a suas instruções, e, em seguida, tábua e canivete foram trancados na escrivaninha de papai. A mesma coisa foi repetida todas as noites seguintes; ao fim de uma semana eu não agüentava mais de curiosidade. A história continuava.
Toda noite eu tinha que riscar com o canivete, uma vez, pelo sulco que se aprofundava.
Chegou afinal um dia em que não havia mais mais sulco. Meu último e leve esforço cortara a tábua em duas. Papai olhou longamente para mim, e depois disse:
- Você nunca acreditaria que isto fosse possível, com tão pouco esforço, não é verdade?
Pois o êxito ou fracasso de sua vida não depende tanto de quanta força
você põe numa tentativa, mas da persistência no que faz.
Foi essa uma lição-de-coisas impossível de esquecer,
e que mesmo um garoto de dez anos podia aproveitar.
SemonoffLondres

NUNCA DEMOS SENÃO O QUE TIVERMOS DE MELHOR
Na manhã de Natal, quando eu descia as escadas na ponta dos pés, para ver os presentes que Papai Noel trouxera, sabia de antemão que me aguardava um dever a cumprir. Até onde consigo me lembrar, faziam-se escolher um dos presentes que me pertenciam, e eu própria ia levá-lo a algum menino pobre da vizinhança.Minha mãe me ensinara a por de lado, entre os presentes, o que mais me agradasse. Não me deixavam dar brinquedos velhos, de que eu já me cansara.No próprio dia de Natal, faziam-me abrir mão do que eu mais desejasse para mim.
Horas mais tarde, ao ver, nos braços de um menino pobre, meu urso de pelúcia, eu já não podia senão compartilhar da alegria que desta maneira lhe proporcionava. Não era outro o sentimento que minha mãe tentara despertar em mim; nem me pudera dar melhor presente que o de ensinar-me a conhecer o sofrimento alheio - percebendo, ao mesmo tempo, que a alegria de partilhar os bens que nos couberem é maior que a ventura de possuí-los.

Tristeza não pagam vidas
Um garoto de 4 anos seguia descalço por uma rua, chupando um picolé num palito. Nesse tempo picolé era um artigo raro. De repente, um grupo de meninos mais velhos passou correndo pela esquina, derrubando o pequeno na corrida, e o picolé caiu no chão se quebrando todo. O Menino sentou-se no chão, e ficou, de olhos arregalados, contemplando a resultado da tragédia. Não sabia o que dizer: só uma tristeza muito grande o dominava. Uma Senhora idosa vinha nesse momento pela rua e caminhou para a Criança.

- Bem, meu pequeno, disse ela, o pior que podia haver, aconteceu a você. Mas levante-se, que eu vou lhe mostrar uma coisa. O pequenino ergueu-se.

- Agora ponha seu pé direito em cima do picolé, pise com força, e repare como ele se esguicha entre os dedos do seu pé. O Menino pisou com força o picolé, e este espirrou entre os dedos do pé. A Senhora riu e disse:

- Aposto que não há nenhum outro menino na cidade que já tenha coçado os dedos do pé com sorvete. Corra agora para casa e conte a sua mãe como foi divertida a experiência.

E, lembre-se, acrescentou ela, por pior que seja uma coisa que lhe aconteça, você pode se divertir quase sempre à custa dela! Eu era esse garotinho. Nunca fiquei sabendo quem era aquela Senhora, mas nunca esqueci o que ela fez por mim. As piores coisas me tem acontecido desde então, e as palavras dela vêm-me sempre à memória. É mesmo bobagem levar muito a sério a esmagadora maioria das tristezas dessa vida.
H. Swarth - Irlanda